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Zélia Mota: trajetória e legado da primeira deputada estadual do Ceará


No mês em que a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) completa 190 anos de história, a Casa se despediu de uma de suas personalidades mais emblemáticas: Maria Zélia Mota, primeira mulher eleita deputada estadual no Ceará.

A ex-parlamentar faleceu no dia 6 de abril, aos 90 anos, deixando um legado que ultrapassa o pioneirismo na política cearense. Para ex-colegas de Parlamento, amigos e familiares, Zélia foi sinônimo de coragem, fé e dedicação ao povo. “Uma estrela que vai brilhar para sempre”, declarou uma de suas sobrinhas.

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Romeu Aldigueri (PSB), lamentou a perda da ex-parlamentar em nota de pesar publicada nas redes sociais. “É com profunda tristeza que lamento a perda irreparável da primeira mulher eleita deputada estadual pelo Ceará. Meus sentimentos a todos os familiares, amigos e amigas, e aos que conviveram com Maria Zélia Mota”, escreveu.

RAÍZES POLÍTICAS E FORÇA FAMILIAR

A ex-deputada nasceu em Fortaleza, em 20 de junho de 1934, mas foi em Itapajé que construiu parte importante de sua carreira profissional. Filha de Joaquim da Mota e Joana Gomes da Silva, Zélia pertencia a uma tradicional família política do Vale do Curu. Ao lado do marido, Francisco Silva Mota, ela viveu na cidade onde atuou por muitos anos como tabeliã. Como serventuária da Justiça, exerceu relevante papel social e de cidadania, junto à população de sua terra por adoção.

A política corria no sangue. Era irmã de Raimundo Gomes da Silva, ex-presidente da Assembleia Legislativa e deputado federal, e de José Gomes, deputado estadual e ex-prefeito de Pentecoste. Outros irmãos também seguiram o mesmo caminho, como Roldão Gomes, ex-prefeito de Uruburetama. O pai, conhecido como “coronel Jaca Paraíba”, embora não tenha exercido mandatos eletivos, era uma figura de grande prestígio político na região.

Nesse ambiente, a candidatura de Maria Zélia ganhou força – num tempo em que mulheres na política eram raridade. “Ela sempre foi muito atuante, mas naquela época (1974), nenhuma mulher tinha sido deputada ainda. Foi algo tão inusitado que a família chegou a pesquisar no Código Eleitoral se mulher podia mesmo ser candidata. E podia. Ela foi, se elegeu e desempenhou muito bem o papel dela de parlamentar”, assinala a sobrinha, fisioterapeuta e coordenadora do setorial da Saúde do PT Fortaleza, Alexandrina Mota.

Eleita deputada estadual aos 40 anos, pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), Dona Zélia – como também era conhecida – obteve votação expressiva em 70 municípios cearenses, incluindo Apuiarés, Itapajé, Pentecoste e regiões do Vale do Curu e da Serra de Uruburetama. Assumiu o mandato em 1975 e seguiu até 1978, com forte atuação em pautas sociais e na defesa dos mais vulneráveis.

Durante sua trajetória na Alece, ocupou a terceira-secretaria da Mesa Diretora no biênio 1975-1976 e chegou a presidir sessões no plenário na ausência do presidente à época, marcando presença em um espaço historicamente masculino. Com firmeza e sensibilidade, Dona Zélia abriu portas e inspirou gerações de mulheres a buscarem seu espaço na política e na vida pública.

AMIGOS E COLEGAS DE LEGISLATURA

O ex-deputado Osmar Diógenes, e ex-colega de legislatura, fez questão de relembrar esse marco histórico. “Nossa Assembleia foi instalada em 7 de abril de 1835 e, até 1975, nunca tivemos uma mulher no plenário da Assembleia eleita pelo povo. A primeira foi ela”, pontuou.

Ele acrescentou que a atuação de Maria Zélia marcou um novo capítulo na história do Legislativo cearense. “Foi uma grande deputada, dedicada aos seus eleitores, e trouxe a presença e o valor da mulher cearense para dentro da Assembleia. A partir dela, muitas outras vieram. Maria Zélia abriu caminhos e encorajou outras mulheres a disputarem e vencerem eleições. Isso é parte importante da história do nosso Ceará”, destacou.

Rômulo Martins, ex-diretor do Plenário da Casa, hoje aposentado, lamentou a perda e exaltou a trajetória da ex-parlamentar. “Foi uma notícia que me deixou muito triste. Dona Zélia sempre foi presente, atuante e comprometida com as causas sociais. Estava ao lado do povo, defendendo com garra o que acreditava. Era visível o quanto ela se importava com os servidores da Casa. Muito querida por todos”, declarou.

Quem também guarda boas lembranças da deputada é a ex-funcionária da Casa, Salete Pinheiro, que destacou a postura simples, educada e atenciosa de Zélia com os colegas. “Falar da deputada Zélia Mota é muito salutar. Era uma pessoa fantástica, muito simples, educada e tinha uma aceitação muito grande entre os funcionários, porque tratava todos com reciprocidade e muito respeito. Às vezes, a gente fazia reivindicações, pedia o apoio dela para votar o reajuste dos servidores, e ela sempre se empenhava nas nossas pautas”, destacou.

MEMÓRIA AFETIVA E FAMILIAR

Para a família, a ex-deputada foi exemplo de força, fé e generosidade. “Mamãe sempre foi sinônimo de amor, coragem e determinação. Nos ensinou a enfrentar os desafios de cabeça erguida, a respeitar o próximo e a tratar todos com respeito, mesmo quando pensavam diferente”, destacou a filha, Zélia Mota, ex-vereadora de Tejuçuoca.

“Com um sorriso sempre no rosto, era apaixonada por música, adorava cantar e dançar clássicos, como ‘Saudosa Maloca’, ‘Trem das Onze’ e ‘Levanta, Sacode a Poeira e Dá a Volta por Cima’ – esse último, seu verdadeiro lema de vida. Era fã de Beth Carvalho, Martinho da Vila, Demônios da Garoa... E, claro, gostava das campanhas políticas e do contato com o povo”, completou.

O carinho da família se reflete também nas lembranças da sobrinha Alexandrina Mota, fisioterapeuta e assessora parlamentar. “Ela era muito querida em Itapajé, onde deixou marcas profundas. Mudou toda a vida para assumir o mandato em Fortaleza, mas nunca se afastou da sua gente”, relembrou.

Para Alexandrina, Maria Zélia “foi realmente uma pioneira”. Ela lembrou que, dos 190 anos da Assembleia Legislativa, “140 foram sem a presença feminina”, e destacou que a tia “desempenhou muito bem o mandato” e foi “muito reconhecida”, principalmente pela atuação em Itapajé. “Lembro bem da inauguração do BEC [antigo Banco do Estado do Ceará], que foi uma das lutas dela”, pontuou.

Alexandrina Mota também ressaltou que a ex-parlamentar “foi um exemplo para a família e para nós, mulheres”, destacando a forte presença feminina na política familiar. “As mulheres dessa família são muito fortes — e a Tia Nenzinha foi, assim, um grande legado”.

Luiza Martins, diretora-presidente da Companhia de Participação e Gestão de Ativos do Ceará (CearaPar), também sobrinha de Zélia, destacou em suas redes sociais: “Tia Nenzinha veio de Joana e Jaca Paraíba e por isso seu DNA carregou na herança a força, a coragem e a humanidade. Enfrentou muitos preconceitos, com certeza! Num mundo ainda mais masculino abriu caminhos para outras mulheres como deputada estadual pelo Ceará, mas muito antes já servia ao povo de Itapajé como sábia e consultada tabeliã”, escreveu.

Luiza continuou destacando o papel afetivo e inspirador da tia na vida familiar. “Com ela, aprendi como se cuida, com amor, de uma mãe que envelhece, como ser uma boa irmã e tia, mas também, como nunca esquecer de onde eu vim. Obrigada, Tia Nenzinha, pelos muitos ensinamentos”, compartilhou.

O ex-deputado Antonio Mota Brito, sobrinho da ex-parlamentar, destacou a importância da trajetória política de Maria Zélia Mota e sua forte ligação com o povo. Ele relembrou a atuação da família na região do Vale do Curu e Serra de Uruburetama, e o compromisso incansável da tia com as causas sociais. “A casa dela vivia cheia de gente que vinha do interior para Fortaleza. Ela representava prefeitos, cobrava do governo estadual, ia toda semana às repartições em busca de melhorias. Foi guerreira e muito dedicada à população”, afirmou.

UM OLHAR DE OUTRA PIONEIRA

Para Maria Luiza Fontenele, ex-deputada estadual e ex-prefeita de Fortaleza — primeira mulher eleita prefeita de uma capital brasileira —, a eleição de Zélia Mota foi um marco em um dos períodos mais difíceis do Ceará, quando a seca agravava a vida da população mais pobre.

“Ela conhecia a dor dos mais humildes e foi uma voz firme em defesa dos mais vulneráveis, numa época em que poucas mulheres ocupavam espaços de poder. Dona Zélia não apenas chegou à Mesa Diretora, como marcou com sua presença a luta por justiça social e igualdade”, concluiu.



Fontenele lamentou que, passadas décadas, ainda são poucas as mulheres na vida pública. “O desempenho feminino na política continua pequeno diante de um mundo patriarcal e machista. A luta contra essas desigualdades é urgente. Muitas candidaturas femininas ainda são fictícias, criadas apenas para cumprir cotas legais. Precisamos seguir com força e emoção para superar o patriarcalismo e construir uma sociedade mais justa”, completou.

O legado de Maria Zélia Mota permanece vivo não apenas nos registros da história política cearense, mas também no exemplo de integridade, coragem e empatia que marcou sua vida pública e pessoal. Seu pioneirismo abriu caminhos, inspirou gerações e deixou marcas profundas na memória coletiva do povo cearense. Mais do que a primeira mulher eleita para o Parlamento estadual, Dona Zélia foi voz ativa das causas sociais e símbolo da força feminina na política.



ALECE 190 ANOS

Para marcar a celebração pelos 190 anos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), a Casa lançou o hostsite “Alece 190 anos - Uma História de Compromisso com o Ceará”. O hotsite é uma produção conjunta que agrega a Coordenadoria de Comunicação Social (por meio da Agência de Notícias e dos núcleos de Publicidade e de Projetos Especiais) e a Coordenadoria de Tecnologia da Informação (Coti).

Edição: Lusiana Freire/Vandecy Dourado
Por Narla Lopes
Raimundo Moura

Radialista formado, blogueiro, graduando em serviço social e Conselheiro Tutelar, atualmente apresento o Programa Alerta Geral Vale do Curu pela 91.9 de Pentecoste e colaboro com o Jornal Integração da Atitude FM de Itapajé.

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