Problemas na correção das provas do Enem pioraram o que já estava ruim
Por Mateus Prado
Parecia que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010 não tinha como ficar pior, mas o Ministério da Educação (MEC) e as instituições responsáveis pela aplicação e correção das provas conseguiram fazer isto. O desrespeito aos direitos individuais seguem, e agora mais candidatos sofreram danos irreparáveis.
Desta vez, o grande problema foi a correção das provas de redação. Esta coluna, do iG Educação, já tinha adiantado que os critérios e métodos de correção da redação no Enem não são claros e objetivos. São extremamente injustos. Cerca de 3 milhões de textos passam por corretores. Eles recebem muito poder para exercer a subjetividade. São milhares os corretores. Cada aluno teve de, além de fazer uma boa redação, contar com a sorte de seu texto 'cair' nas mãos de um professor benevolente.
Os depoimentos dos alunos, pelo Brasil afora, demonstram que as notas não reproduziram, necessariamente, as capacidades argumentativas dos candidatos. Muitos alunos que, por exemplo, foram bem avaliados em vestibulares tiveram, na nota de redação do Enem, uma nota bem abaixo do razoável. O contrário também aconteceu. Alunos que não estão acostumados à produção textual receberam notas acima de 750, uma avaliação pessoal extremamente positiva se considerarmos as notas médias neste item.
Não questiono as notas altas. Certamente, nestes textos há motivos suficientes para justificar estas notas, ou até maiores. O que questiono são as baixas. É bem verdade que a gritaria geral em relação à nota inclui alunos que fizeram textos pífios e que uma nota maior não encontraria nenhum elemento de justificação. Considero esta possibilidade nas conversas que venho tendo com vários alunos e profissionais da educação desde a publicação dos resultados do exame de 2010. Mas já tenho claro que injustiças, e muitas, foram cometidas.
Estou convicto de que bons textos passaram por alguns corretores um pouco mais exigentes e pontuaram entre 400 e 700, nota que pode atrapalhar o aluno a conquistar sua vaga na universidade. Já é difícil , com os métodos de correção utilizados pelo MEC, apontar a diferença entre uma nota 600 e uma 800. Um dos livros mais vendidos no Brasil e no mundo no último ano foi "O Andar do Bêbado". Em uma das passagens o autor mostra, com dados de pesquisas, como são autoritárias as notas dos professores quando dadas de forma subjetiva. O próprio autor, sendo um dos maiores intelectuais do mundo, passou por uma situação em que fez, um pouco que involuntariamente, o texto do trabalho escolar de seu filho. A nota que o filho recebeu, na redação produzida pelo pai, foi muito menor do que o esperado para o trabalho de um dos maiores e mais respeitados intelectuais da atualidade.
Uma mesma redação, mesmo que avaliada pela mesma pessoa, terá notas diferentes em diferentes correções. Quando este corretor é outro, a diferença de avaliação certamente será maior. Um profissional que corrige há anos redações de vestibulares tradicionais como o da Fuvest e um corretor que está habituado a trabalhar com alunos de escolas públicas, e com suas naturais dificuldades, avaliam de forma diferente os textos. No Enem tem corretores com estes e com centenas de outros perfis.
O problema é ampliado por que o Enem não faz o que é óbvio e ululante. Os critérios de correção precisam ser mais racionais. Pode o Enem, por exemplo, indicar dez itens que precisam ser verificados na redação. Ao corretor caberia somente indicar se o item foi, ou não, minimamente, cumprido. A nota seria dada pelo leitor do cartão de correção, e não pelo professor. Isto é fundamental, por que o ENEM precisa avaliar a qualidade do Ensino Médio e se o aluno tem capacidade de frequentar, com relativo sucesso, os bancos das escolas superiores públicas. Não cabe ao Enem encontrar mais um Jorge Amado, Guimarães Rosa ou Drummond.
Redações anuladas
Quem teve o azar de receber a nota de corretores um pouco mais exigentes terá sua nota média prejudicada e encontrará mais dificuldades de ser selecionado pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Mas o problema é ainda maior. O Enem simplesmente anulou a redação de milhares e milhares de alunos. O MEC ainda não divulgou o número, e acho pouco provável que tenha a coragem de fazê-lo, mas o número de redações zeradas é significativo. Acredito que chega à casa dos centenas de milhares.
Dentre os alunos que tiveram suas redações anuladas, há muitos que a fizeram corretamente e que cumpriram com o que foi pedido na prova. Receber um zero na redação significa que o candidato está impedido de concorrer a uma vaga no SiSU e no Prouni. É isto, a pessoa colocou todo seu ano de expectativa em uma prova para poder entrar no Ensino Superior e um erro absurdo do MEC, e do consórcio responsável pela prova, vai simplesmente impedir o aluno de concorrer a uma vaga em uma Universidade Pública ou a uma bolsa em uma Universidade Particular.
Zerar uma redação, que tem 1.000 como nota máxima, só é justificável se o texto for milhares de vezes pior do que o pior texto que qualquer um de nós tenhamos lido na vida. As orientações do Enem são claras. O único motivo para uma redação não ser corrigida é ela ter menos de 7 linhas. O único motivo para ser anulada é ela não obedecer ao eixo cognitivo ético. Duvido que tantas pessoas fizeram a defesa do trabalho escravo, o que poderia anular a redação.
Para compararmos, a pior nota de Matemática e suas Tecnologias foi 313. Esta nota foi dada para o aluno que não sabe nada, que não resolveu nada da prova. Este não estará impedido de concorrer no SiSU e no Prouni. Agora, os milhares que constituem os novos injustiçados pelo Enem, que tiveram sua redações zeradas, não podem concorrer e não possuem à sua disposição nenhum canal que possa resolver seu problema. Faço mais uma vez um pedido ao MEC. Por favor, me ajudem a defender o Enem. Um exame como este tem muitos adversários, inconformados com a possibilidade de mudanças no Ensino Superior e no Ensino Médio brasileiro. Hoje, todos estes adversários juntos não fazem no Enem 10% do estrago que o MEC tem feito. O Enem precisa dar certo, pelo bem da educação brasileira. Pô, MEC, dá um tempo.
Comentários Vitruviano disse...
Mateus, concordo plenamente com você,não querendo justificar minha nota na redação neste enem, porém jamais esperava que minha redação tivesse a nota de 533, minha expectativa era de no mínimo por volta de 700 para que eu pudesse concorrer a uma vaga em alguma boa federal, meus sonhos foram por agua a baixo, até agora não estou acreditando na nota que obtive, não que eu seja ótimo em textos dissertativos mas modéstia parte não escrevo tão mal, tenho sim problemas com alguns erros gramáticos, mas não problemas tão graves a ponto de tirar uma nota abaixo de 600.
obrigado.
Parecia que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010 não tinha como ficar pior, mas o Ministério da Educação (MEC) e as instituições responsáveis pela aplicação e correção das provas conseguiram fazer isto. O desrespeito aos direitos individuais seguem, e agora mais candidatos sofreram danos irreparáveis.
Desta vez, o grande problema foi a correção das provas de redação. Esta coluna, do iG Educação, já tinha adiantado que os critérios e métodos de correção da redação no Enem não são claros e objetivos. São extremamente injustos. Cerca de 3 milhões de textos passam por corretores. Eles recebem muito poder para exercer a subjetividade. São milhares os corretores. Cada aluno teve de, além de fazer uma boa redação, contar com a sorte de seu texto 'cair' nas mãos de um professor benevolente.
Os depoimentos dos alunos, pelo Brasil afora, demonstram que as notas não reproduziram, necessariamente, as capacidades argumentativas dos candidatos. Muitos alunos que, por exemplo, foram bem avaliados em vestibulares tiveram, na nota de redação do Enem, uma nota bem abaixo do razoável. O contrário também aconteceu. Alunos que não estão acostumados à produção textual receberam notas acima de 750, uma avaliação pessoal extremamente positiva se considerarmos as notas médias neste item.
Não questiono as notas altas. Certamente, nestes textos há motivos suficientes para justificar estas notas, ou até maiores. O que questiono são as baixas. É bem verdade que a gritaria geral em relação à nota inclui alunos que fizeram textos pífios e que uma nota maior não encontraria nenhum elemento de justificação. Considero esta possibilidade nas conversas que venho tendo com vários alunos e profissionais da educação desde a publicação dos resultados do exame de 2010. Mas já tenho claro que injustiças, e muitas, foram cometidas.
Estou convicto de que bons textos passaram por alguns corretores um pouco mais exigentes e pontuaram entre 400 e 700, nota que pode atrapalhar o aluno a conquistar sua vaga na universidade. Já é difícil , com os métodos de correção utilizados pelo MEC, apontar a diferença entre uma nota 600 e uma 800. Um dos livros mais vendidos no Brasil e no mundo no último ano foi "O Andar do Bêbado". Em uma das passagens o autor mostra, com dados de pesquisas, como são autoritárias as notas dos professores quando dadas de forma subjetiva. O próprio autor, sendo um dos maiores intelectuais do mundo, passou por uma situação em que fez, um pouco que involuntariamente, o texto do trabalho escolar de seu filho. A nota que o filho recebeu, na redação produzida pelo pai, foi muito menor do que o esperado para o trabalho de um dos maiores e mais respeitados intelectuais da atualidade.
Uma mesma redação, mesmo que avaliada pela mesma pessoa, terá notas diferentes em diferentes correções. Quando este corretor é outro, a diferença de avaliação certamente será maior. Um profissional que corrige há anos redações de vestibulares tradicionais como o da Fuvest e um corretor que está habituado a trabalhar com alunos de escolas públicas, e com suas naturais dificuldades, avaliam de forma diferente os textos. No Enem tem corretores com estes e com centenas de outros perfis.
O problema é ampliado por que o Enem não faz o que é óbvio e ululante. Os critérios de correção precisam ser mais racionais. Pode o Enem, por exemplo, indicar dez itens que precisam ser verificados na redação. Ao corretor caberia somente indicar se o item foi, ou não, minimamente, cumprido. A nota seria dada pelo leitor do cartão de correção, e não pelo professor. Isto é fundamental, por que o ENEM precisa avaliar a qualidade do Ensino Médio e se o aluno tem capacidade de frequentar, com relativo sucesso, os bancos das escolas superiores públicas. Não cabe ao Enem encontrar mais um Jorge Amado, Guimarães Rosa ou Drummond.
Redações anuladas
Quem teve o azar de receber a nota de corretores um pouco mais exigentes terá sua nota média prejudicada e encontrará mais dificuldades de ser selecionado pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Mas o problema é ainda maior. O Enem simplesmente anulou a redação de milhares e milhares de alunos. O MEC ainda não divulgou o número, e acho pouco provável que tenha a coragem de fazê-lo, mas o número de redações zeradas é significativo. Acredito que chega à casa dos centenas de milhares.
Dentre os alunos que tiveram suas redações anuladas, há muitos que a fizeram corretamente e que cumpriram com o que foi pedido na prova. Receber um zero na redação significa que o candidato está impedido de concorrer a uma vaga no SiSU e no Prouni. É isto, a pessoa colocou todo seu ano de expectativa em uma prova para poder entrar no Ensino Superior e um erro absurdo do MEC, e do consórcio responsável pela prova, vai simplesmente impedir o aluno de concorrer a uma vaga em uma Universidade Pública ou a uma bolsa em uma Universidade Particular.
Zerar uma redação, que tem 1.000 como nota máxima, só é justificável se o texto for milhares de vezes pior do que o pior texto que qualquer um de nós tenhamos lido na vida. As orientações do Enem são claras. O único motivo para uma redação não ser corrigida é ela ter menos de 7 linhas. O único motivo para ser anulada é ela não obedecer ao eixo cognitivo ético. Duvido que tantas pessoas fizeram a defesa do trabalho escravo, o que poderia anular a redação.
Para compararmos, a pior nota de Matemática e suas Tecnologias foi 313. Esta nota foi dada para o aluno que não sabe nada, que não resolveu nada da prova. Este não estará impedido de concorrer no SiSU e no Prouni. Agora, os milhares que constituem os novos injustiçados pelo Enem, que tiveram sua redações zeradas, não podem concorrer e não possuem à sua disposição nenhum canal que possa resolver seu problema. Faço mais uma vez um pedido ao MEC. Por favor, me ajudem a defender o Enem. Um exame como este tem muitos adversários, inconformados com a possibilidade de mudanças no Ensino Superior e no Ensino Médio brasileiro. Hoje, todos estes adversários juntos não fazem no Enem 10% do estrago que o MEC tem feito. O Enem precisa dar certo, pelo bem da educação brasileira. Pô, MEC, dá um tempo.
Comentários Vitruviano disse...
Mateus, concordo plenamente com você,não querendo justificar minha nota na redação neste enem, porém jamais esperava que minha redação tivesse a nota de 533, minha expectativa era de no mínimo por volta de 700 para que eu pudesse concorrer a uma vaga em alguma boa federal, meus sonhos foram por agua a baixo, até agora não estou acreditando na nota que obtive, não que eu seja ótimo em textos dissertativos mas modéstia parte não escrevo tão mal, tenho sim problemas com alguns erros gramáticos, mas não problemas tão graves a ponto de tirar uma nota abaixo de 600.
obrigado.
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