Famílias assentadas sairão em trinta dias
Audiência com a Cialne deixou agricultores do MST temerosos
Sem ter para onde ir. Mais de 30 famílias do Assentamento Nova Canudos receberam uma triste notícia ontem, após audiência, na 5a Vara Federal, entre a Companhia de Alimentos do Nordeste (Cialne) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST): os moradores terão um prazo de 30 dias para desocupar a terra e tentar procurar um novo local para ir. A disputa pelo terreno é antiga e a decisão do juiz João Luiz Nogueira ainda cabe recurso que será apresentado pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos próximos dias. Preocupado com o futuro, o trabalhador não sabia como ia dar a notícia da mudança à família. “Antes eu tinha onde morar, já estava começando a sonhar e ser feliz na minha terrinha, agora não tenho mais nada”, desabafou Bernardo Pinto que há dois anos está no Assentamento. A empresa diz que o MST invadiu as terras, no entanto o Incra e o Movimento se defendem alegando que, quando ocuparam a terra, o Assentamento já estava todo regularizado. Segundo a procuradora do Incra, Evelyn Greyce de Barros, a decisão - de expulsão dos agricultores após dois anos de consolidação de assentamento – é inédita no Ceará.
Explicando que o prazo de trinta dias para a desocupação é uma forma de tentar apaziguar os ânimos e dar tempo para que os assentados procurem onde morar, o Juiz da 5a Vara, João Luiz Nogueira, frisou que a retirada dos trabalhadores não deve ser feita de modo violento e com o uso da força. “Não queremos que haja conflitos, nem Polícia e que tudo seja feito de forma ordenada. O Incra deve tentar relocá-los”, frisou o juiz. A Cialne, uma das maiores empresas do agronegócio no Ceará, se pronunciou dizendo que auxiliará, no que for preciso, para a retirada dos agricultores. O MST alega que a Cialne não tem posse do terreno e que ele era, inclusive, improdutivo.
Revoltados com a situação, os agricultores do MST denunciam que não têm outras terras para ir. Consciente da disputa entre o MST e os latifundiários no Ceará, Maria de Jesus, da direção estadual do Movimento, parecia revoltada com tanta injustiça, afirmou. “Esse povo que está lá luta por isso e fazem partem, inclusive, do programa de reforma agrária. Como uma empresa, toda metida a poderosa, chega do nada alegando ser dona de tudo?”, indagou a dirigente. Entristecida com a decisão, Liduina Ramos, disse que a agricultura é a única saída para a sua vida: “eu crio meu filho com o que tiro da terra. Se eu não tivesse aqui, poderia estar na cidade pedindo esmola, usando drogas, sei lá”, declarou a assentada do Nova Canudos. O assentamento foi criado em 2007, na antiga Fazenda Tapuio, na época pertencente à empresa Fortaleza Agroindústria S.A. (Faisa). Esta empresa usou o imóvel para pagar dívidas trabalhistas. A Cialne adquiriu o imóvel de uma das ex-empregadas da Faisa em agosto de 2007, sete meses após o decreto de desapropriação.
Preparando-se para recurso judicial, a advogada do MST, Patrícia Oliveira Gomes, disse que a Cialne vem faltando com a verdade ao anunciar que possui certidões que provam que o Movimento ocupou as terras indevidamente. “Nós vamos resistir e não acreditamos em algumas acusações que eles fazem. Essa ação do judiciário foi inédita, ficamos surpresos, pois a terra já estava assentada pelo Incra. Isso é um absurdo”, frisou a advogada. O Incra, que investiu R$112.500 em créditos de apoio inicial e de construção de casas, acionará o setor jurídico para tentar reverter a situação e garantir que os agricultores fiquem.
Fonte:O Estado
Comente
Nenhum comentário :