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Apreciação crítica da obra “Além de mim”, de Aurenir Sales

Caros amigos,





Além, muito além, muito além de mim, de ti, de nós e ao mesmo tempo tão próximo. Assim podemos definir, inicialmente, o que escreve a jovem poetisa Aurenir Sales em seu livro de estréia Além de mim. Obra pertencente ao gênero poema, reunindo 34 textos que abordam temáticas que vão desde a infância até reflexões sobre o “ser mulher”.
O poeta Paulo Leminski, certa vez refletindo sobre a poesia, afirmou que deve existir tanta poesia no emissor, ou seja, aquele que escreve quanto o receptor, o leitor. Envolvido pela poesia, é assim que nos sentimos ao ler os textos de Além de mim. O leitor se projetará em muitas das inquietações apresentadas pelo eu-lírico envolvendo-se nas palavras sedutoras desses textos.
Essas inquietações são apresentadas nas palavras vivas e saltitantes da escritora que conseguem prender o leitor e provocar uma daquelas leituras “de um fôlego só”. Não é necessário mais do que isso, porque o tempo é raro, nas palavras da autora: “O tempo não tem repetidor.” E, aliás, “tempo” é uma temática muito freqüente na obra. A palavra “tempo’ nessa obra tem alguns desdobramentos. Um exemplo é o texto inicial “Tempos atuais”, onde a autora em um fluxo de consciência reflete sobre essa fluidez da vida dita Pós-moderna onde a insensibilidade é um traço bem marcante: “Alguns morrem/Outros desistem/Alguém grita/Ninguém escuta.” Ou ainda o fragmento: “O tempo está quieto e ansioso”.
Outro traço bem marcante do tempo é a juventude. A juventude e junto com ela uma necessidade auto-afirmação. Os questionamentos e as incompreensões típicas como escreve no poema “Meu grito”: “Dezoito anos e uma teimosia/ Lutar, ainda que em vão/Tentar, ainda que morra sem conseguir.” Essa teimosia é expressa de uma maneira tão marcante que a autora apresenta através de um paradoxo que nos remete a uma intertextualidade com Shakspeare: “Se em meus sorrisos gargalho as tristezas do viver/É porque enfim descobri ser e não ser”.
Outro desdobramento do tempo são as reminiscências. A autora lança mão de sua memória para retomar fatos marcantes de sua vida. Um exemplo bem marcante disso é o poema “Recordações”. Essas recordações obedecem a uma cronologia de um tempo psicológico linear indo desde a infância até os dias mais recentes: “Guardo em minha memória/Os meus encantos infantis/Os lugares que morei/As pessoas que conheci.” Nessas memórias, o eu-lírico apresenta o maravilhoso mundo lúdico do universo infantil, mas não é um universo infantil de parquinhos e shoppinng centeres. Não, em “Além de mim”, temos mais que isso. Temos nesses poemas uma infância bucólica, ou seja, em contato com a cultura e os costumes do campo: as brincadeiras: “Todas as brincadeiras/De roda e esconde–esconde/Os desenhos que pintei”; o contato com os animais: “Aos dez anos andei a cavalo”; a vida em contato com a natureza: “E os banhos no riacho/Na casa de minha avó”. Esses são os principais elementos que marcam o traço bucólico da obra.

No universo literário, muitos autores refletiram sobre o processo de escrita, é o que caracterizamos como metalinguagem. Rubem Alves falou que o escritor é aquele que escreve o que você sente, mas não tinha palavras para dizer. Clarice Lispector afirmou que quando escrevia comunicava o que havia de mais profundo no seu interior. Rachel de Queiroz chegou a afirmar que não gostava de escrever, mas escrevia por causa de uma imposição subjetiva. Algo no seu íntimo a impulsionava à escrita. Segundo Jean Paul Sartre, escrever é uma ação de desnudamento. O escritor revela ao escrever, revela o mundo, e em especial o Homem, aos outros homens, para que estes tomem, em face ao objetivo assim revelado, a sua inteira responsabilidade. Na obra “Além de mim”, há um nítido desnudamento, a autora através de meta poemas reflete sobre seu processo de escrita como é o caso dos poemas: “Meu grito”, “Inspiração de escritor”, “Ansiosamente”, “O tal poema”, além de outros. Assim temos: “Escrevo aqui e assim/Talvez um poema, mais um poema./Mais um poeta incompreendido/Entre tantos que o mundo obriga.” Também temos: “Mas ainda faltou–me algo mais/Ter escrito um poema/Falando de coisas banais.” E Ainda, falando de sua necessidade de dizer o que sente: “Mil coisas eu teria para dizer/Talvez uma poesia para escrever”. O eu lírico também apresenta sua fome de poesia: “Estou com fome de escrever/De em voz alta ler”.
Assim, meus amigos, se constrói o texto de Aurenir Sales, utilizando uma linguagem simples, que em muitos momentos tem fortes traços de coloquialismo, ela tece suas emoções, sensações, subjetividades. Juntando pedaços do seu eu na tentativa de construção de um mosaico que aos poucos vai tomando formas e cores. Transpassada pelas inquietações e questionamentos típicos da juventude e da pós-modernidade, ela se apresenta ao leitor, além das incompreensões, além da aceitabilidade, além dos julgamentos, além das palavras, além de nosotros caras pálidas sobreviventes em uma sociedade, que nas palavras de Affonso Romano de Sant’Anna vive o “Inigma do vazio”, além de nós, além de ti, “Além de mim”, recebam, recebam a obra de Aurenir Sales.

Por Nonato Furtado
Raimundo Moura

Radialista formado, blogueiro, graduando em serviço social e Conselheiro Tutelar, atualmente apresento o Programa Alerta Geral Vale do Curu pela 91.9 de Pentecoste e colaboro com o Jornal Integração da Atitude FM de Itapajé.

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